quarta-feira, 13 de março de 2013

HUMILDADE, SIMPLICIDADE E O HUMILHAR-SE


HUMILDADE, SIMPLICIDADE E O “HUMILHAR-SE

“Bem aventurados os humildes, pois deles será o reino dos céus” (Mateus 5:3)
“Quem se humilha será exaltado e quem se exalta será humilhado” (Mateus 23:12)

Durante séculos a humildade tem sido elevada ao grau máximo entre as virtudes, sobretudo no que diz respeito à cristandade.
Junto dela sobreleva-se, como se sinônimo fosse, a simplicidade enquanto virtude.
Todavia, o significado que se lhes atribui não corresponde, na maioria dos casos, ao sentido e significado original de tais vocábulos.
A humildade é confundida com a parca situação econômica do ser humano a quem se destina tal alcunha, ou, por outra, á uma postura servil ou subserviente, para não dizer passiva.
Os textos bíblicos acima tem levado um grande número de Cristãos a entender que uma vida servil e passiva será recompensada e que uma Divindade se regozija com a humilhação (no sentido de degradação) de seus entes criados, e lhes premia por isso com a sua exaltação.
Cumpre dizer que a palavra humildade significa, em sua,  origem e literalidade “solo fértil” e vem de “húmus”, em sentido estrito, solo sobre nós.
Humus é aquele sobre solo que, posto pelo tempo (resto de folhas mortas, corpos, etc.) sobre o terreno, o torna fértil.
Humildade é, pois, a qualidade de estar aberto, fértil ao recebimento da “semeadura” ou de favorecer a sua fertilização.
É a notória questão entre a “xícara cheia” e a “xícara vazia”, entre os chineses, posto que aquele que se encontra com a “xicara cheia” não permite a introdução de nada mais em seu recipiente.
Assim como diziam os discípulos de Ramakrishna, “a graça do Senhor é como a chuva que cai sobre todo o vale, mas só brota e frutifica o solo fértil e semeado”.
Assim, humilde é aquele que se permite a semeadura e crescimento da vida que lhe outorga a natureza.
O seu oposto é aquele que cultiva o solo árido e seco, como se bastasse a si próprio, negando-se à vida e ao saber.
Quanto ao termo “simplicidade” ou “simples”, sua origem está no latim, “simplex”, e quer dizer único, único ou, até mesmo, ímpar.
É a qualidade daquilo que não é composto, e, dependendo da conotação, pode até ser um atributo negativo.
Positivamente falando, é aquele que  não comporta divisões e se liga, no nosso entendimento, á integralidade e indivisibilidade da essência, ou seja, do SER.
Resta-nos, ainda, esclarecer que o vocábulo “humilhar”, em face da raiz etimológica com “humildade” e  “húmus”, significa fazer-se humilde.
Se por vezes é dolorido este processo, este se deve à complexidade de se transformar solo árido e seco em um solo fofo e fértil, cheio de húmus.
Exaltar, do latim ex, que é um prefixo para designar “além” ou “acima”,  e altar de altura, quer dizer colocar-se além da própria altura.
Assim, aquele que for humilde, ou seja, que se permite fertilizar e frutificar, será colocado além da sua própria altura original e herdará o Reino dos Céus, que, segundo o Senhor Joshua, está dentro de nós (potencialmente), mas, dinamizado, será a nossa herança.
Em face disso, estará além da sua própria dimensão humana, para comungar com o Divino.
Entretanto, aquele que se exalta por se bastar, será feito humilde pelos processos da natureza, para que o seu solo seja fértil e o que existe em potencial seja dinamizado, quando ultrapassadas suas estreitas dimensões.
Humildade é questão de consciência.
É questão de PARAR, simplesmente, abrir-se, simplesmente, VIVER, simplesmente, ao invés de querer, debater-se, impor-se, desejar, fixar-se e obstinar-se em suas próprias convicções.
É entrar no mundo da real meditação e do encontro com o SAGRADO, que, encontrando solo fértil, fecunda, desenvolve e se estabelece na integralidade daquele solo penetrado pelo húmus.




sábado, 2 de março de 2013

AS PESSOAS QUE VIVIAM EM MIM


AS PESSOAS QUE VIVIAM EM MIM



JÁ NÃO SOU QUEM UM DIA FUI. MELHOR DIZENDO, EM MIM NÃO MAIS HABITAM AS PESSOAS QUE UM DIA HABITARAM O MEU INTERIOR.

OS QUE VIVIAM EM MIM NÃO EXISTEM MAIS.

DELES RESTAM POUCAS LEMBRANÇAS E NENHUMA SAUDADE, POR ISSO NÃO OS PROCUREM AQUI...



                                                                                    SATYANANDA

O HOMEM MODERNO, A LINGUAGEM E A MEDITAÇÃO

O  HOMEM MODERNO,  A LINGUAGEM E A MEDITAÇÃO



Como já foi dito em outro texto já postado neste blog, segundo Lacan o homem é formado pela linguagem, todavia, não é o ser humano que é assim formado, mas a pessoa ou persona.

Antes de qualquer coisa, deve-se definir linguagem não só como o emprego da palavra oral ou escrita, mas como toda manifestação, vocal, tonal, gráfica, gestual, etc, que vise a comunicação de ideias ou fatos a outrem.

Assim, o homem é um transmissor, via linguagem, de ideias e experiências, contribuindo para a formação da persona que se desenvolve no outro.

Entretanto, como são muitas as trocas e fragmentadas as ideias, são muitas as pessoas que habitam um único ser.

Logo, ao invés de existir uma pessoa, o fato é que muitas habita o mesmo involucro.

Este grupamento que vive em nós, sufoca e não permite que o ser essencial se manifeste.

Experiências recentes comprovam que "a pessoa" não é una, mas fragmentada, situando-se em partes diversas do cérebro que são acionadas de acordo com a situação que se apresenta.

A sensação de unidade é, portanto, apenas aparente e ilusória.

Em face disso, percebe-se que somente a "concienciação" (sarvaneologismo)  pura permite o afloramento do que é real.
Entretanto, se  "a pessoa" (já sabemos que são muitas), é criada pela linguagem, pode-se dizer que o diálogo meditativo é uma forma de desconstrução dessa mesma persona.

É só, por enquanto...