segunda-feira, 27 de maio de 2013

A Arte Sequencial e a Mente Abstrata

ARTE SEQUENCIAL E MENTE ABSTRATA



Alguns dirão que a arte seqüencial é para mentes simples ou despreparadas.
Não quero rebater tal argumento com a alegação de sua difusão não só nos meios de comunicação como educativos, culturais e artísticos de países tais como Japão, França, Bélgica, Austrália, Reino Unido, Alemanha, Estados Unidos, etc., o que é um fato, porque seria mero argumento de autoridade.
A fácil penetração da arte seqüencial em mentes infantis, se deve a razão destas possuírem mentes mais fluídicas e abstratas.
Desde temos imemoriais, o homem tenta transmitir suas verdades (história, contos, idéias) por imagens ou ideogramas.
Isto se dá porque a idéia ultrapassa as palavras e a linguagem (quem estudou tal questão sabe), é mais do que a verbalização ou manifestação via verbetes, mas é gestual, tonal, ideográfica, etc.
A idéia, que é abstrata, não pode ser transmitida, em sua íntegra pela palavra cunhada sobre o papel, mas a imagem, o símbolo em seqüência, muitas vezes agregado à palavra pode.
Daí que somente uma mente alerta, ágil e criativa pode compreender, em profundidade esta forma de expressão.
Um exemplo claro da linguagem e sua formas, fora da arte seqüencial, encontra-se na filmografia de Chaplin, que era compreendido na sua expressão lingüística e idearia, em profundidade, prescindido da palavra.
A mente alerta, adaptada à arte e nela se aprofundando, compreendia a essência da mensagem, de âmago para âmago.
Assim é a arte seqüencial em profundidade, pois é também melhor compreendida e permite maior alcance á mente abstrata do que a que se assenta na concretitude.
É uma forma pura e profunda de penetrar nas mentes e corações humanos.



                                                                        Swami Satyananda

domingo, 26 de maio de 2013

A Arte Sequencial como Instrumento da Educação

A Arte Seqüencial como Instrumento da Educação



Will Eisner cunhou a expressão arte seqüencial, que me parece mais adequada para definir esta forma artística que, principalmente entre nós brasileiros é vista sob forte preconceito.
Se toda forma de amor vale a pena, toda forma de expressão também vale.
Curiosamente, em outros países não é assim. Na Austrália, por exemplo, as histórias do “Fantasma”, criação de Lee Falk, são adotadas nas escolas, pela sua precisão histórica.
Outra forma equivocada é pensar que a arte seqüencial é destinada a crianças e adolescentes.
Desde Robert Crumb, Art Spielgeman e outros, que já não é assim.
Aliás, o próprio Eisner fez belas crônicas da cidade de Nova Iorque e seus habitantes, que se constituem em crônicas sociais belíssimas.
No Japão, a arte seqüencial (chamados mangas), muito antes disso já eram lidos por pessoas de todas as idades, independentemente de sexo, classe social ou nível cultural.
Talvez isso se dê pelo forte entrelaçamento entre todos os aspectos da vida nipônica e a arte (a arte do chá, da caligrafia, artes marciais, etc.), bem como por se tratar de uma forma de expressão hideogramática como é o própria escrita japonesa, assim como a chinesa.
Em 1972 Keiji Nakazawa escreveu e desenhou “Gen Pés Descalços”, que conta a vida de Gen e sua família, habitantes de Hiroshima em 1945.
O enredo é autobiográfico e tem uma precisão histórica incrível.
Ressalta a imparcialidade de Nakasawa, que nasceu em Hiroshima em 1939 e, como Gen (seu alter ego), perdeu quase toda a família em 06 de agosto de 1945, pelo lançamento da bomba atômica (apelidada de little boy), pelo avião “Enola Gay”.
Nakasawa não vitimiza os japoneses e nem demoniza os americanos, mas revela  a insanidade da Guerra e adverte para o risco do patriotismo cego e irracional, que reverbera no fanatismo, seja de qual lado for.
Ele revela, ainda o sofrimento e a discriminação sofrida por aqueles que se opunham a guerra e tinham uma visão pacifista.
Depois de Gen, vieram outros aqui no ocidente e oriente, exemplos clássicos são Maus (ratos em alemão) de Art Spielgman, que relata o sofrimento dos judeus na guerra, sobretudo seu pai e revela o relacionamento complicado de Art e seu pai, bem como todo o sofrimento que este enfrentou durante a guerra, o campo de concentração, bem como a dificuldade de adaptação em face dos traumas sofridos.
Persépolis, por sua vez é a autobiografia de Marjane Satrapi e o sofrimento vivido no Irã desde o início do regime Xiita em 1979. Chegou a ser proibida nos EUA (o que por si já recomenda) e tornou-se filme de animação, tão premiado quanto á novela gráfica.
Joe Sacco, por sua vez, produziu reportagens de profundo valor informativo e histórico como Palestina e Saravejo, transformando relatos, depoimentos e fatos em imagens impressionantes que não poderíamos apreender por um texto jornalístico comum.
Por isso, precisamos superar o preconceito e adotar em nossas escolas obras como essa que reúne arte e informação em um só trabalho.
Creio que assim estaríamos avançando na metodologia educativa não só dos nossos alunos, mas como de nós mesmos.


                                                                            Swami Satyananda 

quarta-feira, 22 de maio de 2013

CAPITALISMO, COMUNISMO, OUTROS ISMOS E A IOGA







Uma vez o Swami Vivekananda foi questionado quanto à forma pela qual a ioga poderia mudar o mundo. O Swami respondeu: “Quem vos disse que a função da ioga é mudar o mundo?” E prosseguiu que a meta era revelar-se, conhecer-se, por se ante o incomensurável.
O fato é que o mundo natural não foi criado pelo homem, mas a estrutura social e, digamos mundial o foi e essa, foi criada por ele e a isso chamamos, também, mundo.
Ele é fruto da mente concreta. Um conflito externo (desde a mais banal desavença, até a guerra mais violenta) não acontece sem que antes tenha nascido dentro do ser,
Todas as dores e incongruências da sociedade provêm dos conflitos e contradições da mente concreta.
O que chamamos de era agrária, nomadismo, era pré-industrial, era industrial (com todos os seus “ismos”: capitalismo, comunismo, anarquismo, etc.) e pós-industrial são frutos dessa mente limitada e limitante, dessa mente desgovernada e conflituosa.
Portanto, todas as suas soluções são ilusórias, temporais e conflituosas e não resolvem nenhum problema.
Somente uma mente pacificada e que se pôs diante do incomensurável, encontra a paz que as soluções ilusórias da mente concreta não nos proporciona.
A sociedade só muda se o ser, em seu íntimo, também mudar.



                                      Swami Satyananda

OS QUESTIONAMENTOS PARA O SARVA IOGUE




OS QUESTIONAMENTOS PARA O SARVA IOGUE



Uma questão que sempre fica no ar quando das relações com outras pessoas, em se tratando dos orientadores Sarva, é quanto à forma lacônica que tratam certos questionamentos.
Lembro-me que quando conheci meu Mestre, o Swami Sarvananda (Georg Krítikos), me assustei, à princípio, diante de sua forma lacônica de tratar tais assuntos e, na minha ignorância, entendi que se tratava de pouca disposição para responder perguntas.
Depois, com o tempo, verifiquei que não se tratava disso. Na verdade ele era bastante benevolente e paciente.
Hoje eu mesmo me vejo compelido a agir da mesma maneira.
A questão é que a verdadeira ioga não é uma digressão mental e ou intelectual, e nem filosofia. A relação com o instrutor ou orientador não consiste em um jogo de perguntas e respostas, mas em um vivenciamento constante, focado no presente, um estado de auto-observação e atenção perene e que vai se instalando gradualmente.
Ioga é vivenciamento perene, real, íntimo, realizada pelo ser e não por intervenção externa.
O objetivo da ioga é a meditação, e meditação não é uma prática, mas um estado espontâneo e consciente do ser, que não pode ser imposto de forma alguma.
O jogo de perguntas e respostas alimenta o ego e a mente corriqueira, que se torna, mais e mais, descontrolada e reforça a ansiedade, gerando o conflito do “vir a ser”.
Responder a certas perguntas é como jogar combustível no fogo, vai aumentar o incêndio ao invés de conte-lo ou extingui-lo.
Mais importante que respondê-las é o postulante se fixar e observar sua própria pergunta, seu questionamento, olhar profundamente para ele e sua origem.


A intervenção extemporânea na vida de uma pessoa cria a falsa ilusão de autoridade e só leva à encrudecimento da mente concreta.
Ninguém em sã consciência tenta libertar o pássaro ainda no ovo, previamente, pois só causaria a sua destruição, assim como ninguém desfaz o casulo da lagarta, para libertar a borboleta, sem mata-la.
A natureza faz o seu próprio trabalho, apressa-la causa somente danos ao ser.
Assim, quanto ao espírito humano, este só será despertado pela ação do próprio indivíduo e não pela intervenção de um elemento externo.
É como a parábola do Guru e do lenhador, que apenas recomendou ao último que seguisse em frente, que adentrasse na floresta, sem fazer qualquer alusão ao que seria encontrado, como, quando e o que fazer com a resultante.
Então é isso que compete ao orientador Sarva. Dizer, tão somente, segue em frente e adentra o mais profundo possível na tua floresta interna...
É tudo por enquanto.

Swami Satyananda